História

Como a invenção do teleférico em cadeiras revolucionou o esqui – e até mesmo o turismo

18/02/2022 - Hypeness

Por Vitor Paiva

A importância de algumas invenções é fácil de ser medida, pela incontestável transformação que impuseram sobre o mundo: da roda à internet, da alavanca ao telescópio, da pólvora à lâmpada, das primeiras ferramentas aos satélites, somos todos capazes de recitar algumas das mais celebradas criações da humanidade, que revolucionaram a vida de forma inequívoca. Há, porém, toda uma classe de invenções que não possuem o mesmo glamour e celebridade das citadas, mas que também transformaram o mundo – e, entre elas, está a Telecadeira, como eram tecnicamente chamados os simpáticos teleféricos abertos que utilizam cadeiras para elevar esquiadores e curiosos ao alto de uma montanha.


Teleférico em cadeiras moderno: a invenção de Curran permanece em estações no mundo


O nome que assina essa engenhosa invenção é o do engenheiro estadunidense James Michael Curran, e se o advento do teleférico em cadeira, desenvolvido na década de 1930, pode parecer desimportante em um primeiro olhar, vale pensar que, antes dele, para esquiar uma montanha era preciso enfrentar uma escalada perigosa ou uma trilha íngreme – em resumo, os teleféricos em cadeira foram fundamentais para a popularização do esqui, a invenção do snowboard e, além de tudo, o surgimento e o sucesso das estações de esqui. A invenção de Curran promoveu uma revolução no esporte, na relação com a natureza, mas também no turismo de diversos países pelo mundo.



James Curran sentado no primeiro teleférico que criou, no Sun Valley Resort, em Idaho


Há, com isso, outro nome fundamental para se contar tal história: foi o magnata William Averell Harriman quem encomendou a invenção ao engenheiro, que trabalhava para Harriman na Union Pacific Railroad, tradicional empresa ferroviária estadunidense. A ideia era trazer o modelo dos resorts na neve, populares na Europa, para os EUA, e criar assim a primeira grande estação turística de esqui no país. O lugar escolhido foi Sun Valley, região montanhosa do estado de Idaho, onde a empresa adquiriu um terreno de mais de 13 mil quilômetros quadrados para espalhar atrações como um hotel de luxo oferecendo diversas atividades na neve – era, porém, fundamental encontrar um meio de transporte simples, fácil e eficaz para levar as pessoas até o alto das montanhas.

Curran testando sua invenção na lateral de um carro


Uma das primeiras cadeiras desenhadas por Curran - com a coberta para as pernas


Curran tinha 33 anos e nunca havia esquiado quando se inspirou no método de carregar bananas para dentro de navios utilizando correias para criar a primeira cadeira-teleférico do mundo, pronta para a inauguração do Sun Valley Resort, em 1936. Os primeiros modelos transportavam esquiadores a uma altura de cerca de 6 metros, percorrendo uma distância de mais de 1 quilômetro e subindo e ganhando mais de 350 metros em elevação. Conhecido como Proctor lift, o teleférico original no Sun Valley funcionou até 1966, mas permanece até hoje para visitação como um verdadeiro pedaço da história – com suas peças de madeira trazendo uma espécie de coberta, que mantinha aquecidas as pernas dos viajantes. A cidade-resort de Sun Valley tornou-se um grande êxito, atraindo celebridades de toda sorte: Clark Gable, Lucile Ball, Marilyn Monroe e os membros da família Kennedy eram figurinhas fáceis nas cadeiras de Curran, e Ernest Hemingway colocou o ponto final no clássico livro Por Quem os Sinos Dobram hospedado na estação.
 

Um dos pontos de embarque do teleférico no resort em Sun Valley


Outras formas mais rudimentares ou menos acessíveis de transporte em montanhas já existiam, mas a facilidade das cadeiras fez da invenção de Curran um verdadeiro marco, que ajudou a catapultar o sucesso do resort em Idaho. O engenheiro seguiu trabalhando para a Union Pacific Railroad até se aposentar, em 1966, dois anos antes de falecer, em 1968, aos 64 anos. Consta que Curran nunca lucrou a partir de sua invenção, mas a dimensão do impacto do que criou pode ser medida pelo singelo fato de seu nome ter sido, no ano de 2001, incluído no Hall da Fama do Ski e do Snowboard, nos EUA. “Esquiar é hoje algo imenso em todo o mundo, mas provavelmente não seria assim, não fosse por Harriman mas também pela invenção criada por meu pai, que tornou as coisas tão mais fáceis”, comentou Ryan Curran, filha do engenheiro, em reportagem para a revista Smithsonian.